quinta-feira, 8 de março de 2018

A Desnuclearização da Coreia Popular (Coreia do Norte)


A Desnuclearização da Coreia Popular


Por Giovani Leninster





O programa nuclear da República Popular Democrática da Coreia (Coreia do Norte*) vem sendo alvo de noticias e análises de diversas correntes e origens, em especial com a elevação qualitativa de seu arsenal, o que levou a series de provocações e sanções impostas unilateralmente pelos EUA e aliados, como Coreia do Sul e Japão. Entretanto no último mês as noticias tem sofrido uma reviravolta e agora a questão da desnuclearização se coloca sobre a mesa.

Neste artigo pretenderemos ser sucintos, sem adentrar nos aspectos históricos que fundamentam o desenvolvimento da doutrina nuclear da RPDC, temática que já foi alvo de discussão no último artigo deste portal.  Assim nosso enfoque se dará nos desdobramentos geopolíticos recentes, bem como nos objetivos a serem atingidos pela RPDC com suas declarações recentes postuladas pelo líder coreano Kim Jong Un, que apontam para o interesse na desnuclearização da península coreana, abrindo uma oportunidade rara para a reaproximação entre as Coreias.

Os olhos do mundo se voltaram novamente para as Coreias, no mês passado devido aos jogos olímpicos de inverno, onde a Coreia do Norte foi convidada pela Coreia do Sul a enviar uma delegação de competidores, que participaram juntos da competição, sob a bandeira da Unificação das Coreias. Fato que emocionou uns e despertou a ira de outros, colocando o imperialismo em alerta. Afinal unificação das Coreias é e continuará sendo a última coisa que o imperialismo estadunidense pretende para a península. 

Na data de ontem 07/03/2018 primeiramente as mídias sul coreanas e na sequencia a grande mídia mundial, passaram a relatar que em encontro entre o Chefe da Segurança Nacional sul coreana Chung Eui-yong com o líder norte coreano Kim Jong Un, este último teria colocado na mesa de discussões a desnuclearização da Coreia do Norte. Algo impensável no período recente, após uma crise de acirramento nas tensões entre as Coreias, com forte interferência dos EUA. Kim Jong Un, apontou que Pyongyang está disposta não apenas a congelar seus testes nucleares, como a colocar em discussão os termos para suspensão total e desnuclearização da Coreia do Norte, a partir de um cenário onde o regime norte coreano e sua população não estejam mais sob ameaça.

As declarações de Kim Jong Un divulgadas pelas mídias sul coreanas puxaram atenções de todos os holofotes, assim críticas de todos os lados passam a surgir, do lado do imperialismo a retórica belicista e agressiva demonstra grande dificuldade e desinteresse em adentrar neste novo estágio de negociações, do lado da "esquerda" inclusive da esquerda revolucionária, surge uma atmosfera de confusão, desconfiança e até mesmo declarações de "traição" já são lançadas à Coreia Popular. O que nos leva a nossa grande pergunta: quais os objetivos da Coreia Popular com esta iniciativa, e como estes se associam aos objetivos geopolíticos históricos do programa nuclear da RPDC?

Como apontado acima a reunificação da Coreia é o último dos interesses do imperialismo, entretanto notadamente este é um interesse primordial para a Coreia Popular. Compreendendo o processo histórico de separação das Coreias, sabemos que o processo revolucionário que se inicia no Norte, é barrado no sul com a forte intervenção dos EUA, levando à guerra das Coreias, e a posterior ocupação do Sul pelas tropas estadunidenses, dando origem à fragmentação da Coreia em dois Estados. Assim, para a Coreia  no Norte, a unificação sempre foi um objetivo interrompido pela agenda do imperialismo. Entretanto, a agenda da reunificação, só pode avançar a partir de uma reproximação política entre as Coreias, que só pode ser possível a partir do momento em que a Coreia Popular fure o embargo político-ideológico imposto pelo imperialismo.



A partir de uma perspectiva norte coreana, o programa nuclear sempre foi instrumento de defesa do Estado Revolucionário, e além disso, instrumento de barganha geopolítica, para alcançar melhores condições de negociação com o imperialismo. Entender como traição o movimento geopolítico da Coreia Popular, é desconhecer profundamente os objetivos do programa nuclear. Que nunca foi voltado para o ataque ou confronto, mas sim para criar condições geopolíticas de defesa da integridade nacional, associada a uma melhor instância para avançar na disputa pela reunificação.

As olimpiadas de inverno trouxeram uma oportunidade única para a RPDC, mostrar ao mundo que está não apenas disposta mas plenamente interessada na reunificação e no cessar de tensões, é a oportunidade de tentar furar o embargo ideológico imposto pelos aparatos midiáticos e ideológicos do imperialismo, buscando criar na comunidade internacional um clamor pela reunificação e desnuclearização. Assim a retórica da Coreia do Norte agressiva e violenta se torna difícil de ser vendida, uma vez que o país publicamente põe na mesa de discussões a desnuclearização. 

Notadamente a desnuclearização seria uma etapa posterior ao resfriamento das tensões, posterior à retirada das tropas estadunidenses do solo sul coreano e do fim dos exercícios militares puxados pela tríade Coreia do Sul-EUA-Japão. A desnuclearização aparece não como capitulação e desistência da via revolucionária, mas sim como nova etapa da via revolucionária, que parte para a "ofensiva" sob bases ideológicas, buscando seu grande objetivo de reunificação.

Por fim, aliados da Coreia Popular como a China, observam com grande entusiasmo as mudanças, e apoiam veementemente o plano de desnuclearização da península. A própria Rússia a partir de suas mídias estatais emite posicionamentos favoráveis ao novo caminho proposto pela RPDC. A China que enxerga na Coreia Popular um aliado estratégico, tem a ganhar com a redução das tensões e com a possibilidade de reunificação, em termos geopolíticos a redução ou cessão das tensões militares, significa o fim de um cenário de guerra fria em sua fronteira, além de uma etapa importante para o avanço estratégico da via revolucionária coreana.


* Como apontado em outro artigo do blog (referencias abaixo), não somos favoráveis a denominação "Coreia do Norte", entretanto para fins didáticos colocamos o nome, devido a seu uso corrente.

Fontes:

http://leninster.blogspot.com.br/2017/09/por-que-coreia-popular-ameaca-o-japao-e.html
http://www.xinhuanet.com/english/2018-03/06/c_137020276.htm
https://edition.cnn.com/2018/03/06/asia/north-korea-summit-intl/index.html
https://globalnews.ca/news/4003677/will-north-korea-attack-the-olympics-probably-not/

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