domingo, 28 de maio de 2017

Ação Direta: Vandalismo ou Tática de Combate?


Ação Direta: Vandalismo ou Tática de Combate?

Por Leninster - Giovani Von Freund.


Marx e Engels demonstraram através de sua vasta obra que as disputas políticas se dão entre Classes Sociais, que possuem interesses inconciliáveis. Isso significa dizer que, de um lado estão postos os interesses da Classe Dominante que utilizará de todos os meios possíveis para mantê-los, e do outro lado estão postos os interesses da Classe Trabalhadora, que expropriada do poder político e econômico buscará novos meios de se contrapor aos interesses da Classe Dominante, e sua principal arma será sua organização, como explicitado por Lenin.

A Classe Dominante dispõe dos mais diversos mecanismos de dominação, começando pelo aparato estatal e suas ramificações, como as instituições, dentre elas a Polícia, que representa o braço armado do Estado e da Classe Dominante. Além desta dominação política existe ainda a dominação econômica, pelo controle dos meios de produção e a dominação ideológica, pelo controle das diversas mídias e do próprio sistema educacional. A partir desta interpretação Marx conclui em A Ideologia Alemã que As ideias dominantes de uma época são as ideias da Classe Dominante.

Essa breve introdução pretende esclarecer a natureza do conflito entre as Classes e a partir dela entraremos no nosso questionamento central deste artigo: Estando o Poder Político, Econômico e Ideológico em mãos da Classe Dominante, quais possibilidades de contraposição à essa hegemonia sobram à Classe Trabalhadora? Quais táticas podem ser implementadas? Como dissemos acima, Lénin já colocava que a organização é a real arma da Classe Trabalhadora, mas sendo mais específicos podemos forçar inicialmente uma divisão em duas modalidades nas estratégias de luta contra-hegemônica: A disputa ideológica e a disputa política. Destacamos ainda que há a disputa econômica, que se dá por dentro da ordem por parte dos trabalhadores pela redução da espoliação e pelo maior controle da produção.

A disputa ideológica se dará através da difusão das ideias do socialismo, ou seja, a difusão da ideologia da classe operária. Esta se utiliza de diversos meios, panfletos, jornais, mídias alternativas, e em tempos de acesso rápido à informação a própria internet se tornará importante polo difusor da ideologia operária. Para fins analíticos traçamos aqui uma divisão entre Disputa Ideológica e Disputa Política, divisão esta que na realidade inexiste, vez que o objetivo final é a subversão da ordem colocada, e a transformação da sociedade em uma sociedade comunista, passando pela transição socialista. O que chamaremos aqui de Disputa Política, será aquela disputa que se dá de forma mais aberta, as Greves, Manifestações de Rua, Barricadas dentre outras táticas conhecidas como Ação Direta.

Ação Direta

A Disputa Política nas ruas tem como objetivo radicalizar a luta de Classes, fortalecer a organização da Classe Trabalhadora e mais do que isso demonstrar força contra a Classe Dominante, colocando-a acuada e na defensiva, visto que a partir de uma compreensão dialética da Luta de Classes entendemos que não existe vácuo político, o Avanço da Classe Trabalhadora implica no recuo da Classe Dominante. Entretanto, essa disputa naturalmente não se dá sem conflitos, especialmente considerando como já discutido anteriormente, que a Classe Dominante dispõe dos mais amplos meios de dominação e Opressão. A Disputa Política entre as classes deflagra conflitos, onde a ordem Burguesa não hesita em utilizar todo o seu aparato Opressor, tanto seu Braço-armado (a Polícia) quanto seu aparato Ideológico, tentando colocar a Classe Trabalhadora contra ela própria, apontando aqueles que estão na arena de disputas como criminosos, vândalos, vagabundos, instigadores do caos social. 

Para a Classe Trabalhadora a Ação Direta se configura como uma de suas principais Armas para garantir os seus direitos existentes, além de tensionar para novos avanços, causando perdas econômicas e políticas para o Capital. Especialmente por sua grande capacidade de infligir danos ao Capital, a Ação Direta é a forma de luta mais abominada pela Classe Dominante e por este motivo é também a mais difamada e oprimida. Cabe a nós neste ponto explicitar melhor: Quais são as formas de Ação Direta e seus objetivos a curto e longo prazo? Quais os cuidados a se tomar com relação a este tipo de arma política?

A Greve é sem dúvida uma das principais formas de Ação Direta, a Greve além de paralisar temporariamente as forças produtivas, e causar danos econômicos ao Capital, serve como momento de promover a consciência de Classes, possibilitando debates políticos, aumento na organização dos trabalhadores e assim proporciona um grande avanço para a Classe Trabalhadora como um todo. É necessário apontar que as Greves enquanto instrumento de luta devem sempre ter um caráter politizante, que reforce a consciência de Classes, fugindo das pautas estritamente econômicas, como ganhos salariais e melhores condições de trabalho, que são também importantes, mas devem sempre estar unidos à avanços organizativos e de consciência política. A Greve Geral aparece como uma grande arma da Classe Trabalhadora, que a partir da união de suas diversas frações de Classe, mobiliza uma luta ampla e irrestrita contra a Classe Dominante, possibilitando enormes avanços qualitativos e quantitativos na organização da Classe Trabalhadora.

Outras formas de Ação Direta consistem no trancamento de vias públicas e estradas com Barricadas, que visam reforçar danos econômicos, além de chamar atenção da Classe Trabalhadora, agindo como um novo fator de conscientização. Outras formas importantes de Ação Direta são também empregadas e daremos um recorte individualizado a estas, por serem formas mais polêmicas e que são frequentemente alvo de difamação, além de opressão aberta das forças policiais, são essas os Enfrentamentos à repressão polícial nas manifestações, a depredação de instituições e patrimônio público e privado além das pixações.

A dialética da Luta de Classes implica que todas as formas e táticas de luta devem ser empregadas, tendo elas como fundo o avanço na consciência de classe e o avanço da organização da classe. Neste sentido em princípio as mais amplas Ações Diretas não só podem como devem ser empregadas. Entretanto, é sempre necessária uma análise conjuntural, uma análise das correlações de forças e dos resultados que determinados tipos de Ação Direta devem surtir em cada conjuntura. A repressão polícial em momentos de acirramento da Luta de Classes tende a se tornar cada vez maior, isso significa que em diversos momentos o confronto será inevitável, e por deves deverá ser encorajado, porém é importante reconhecer a limitação organizativa da Classe Trabalhadora para este tipo de enfrentamento neste momento histórico. O monopólio das técnicas e das Armas está nas mãos da polícia, e um cenário de fragmentação das forças armadas ainda se mostra distante. Ainda assim em determinadas manifestações o confronto pode se dar na perspectiva de garantir a continuação da Manifestação, além de proteger os manifestantes tensionando para um recuo das forças policiais. 

A depredação de Instituições e patrimônio público/privado seguem uma lógica de defesa e ataque. tendo em geral os objetivos de demonstração de força, danos econômicos ao Capital, choque visando a visibilidade das manifestações, além de criação de distrações que dificultem atuação das forças policiais em seu objetivo de reprimir os protestos. Entretanto essas formas de Ação Direta muitas vezes tendem à um acentuado espontaneísmo, que por vezes colocam em risco à segurança dos Manifestantes, além de ter uma atuação que pode desmobilizar a Classe Trabalhadora, especialmente por conta da pressão midiática na criminalização dessas práticas. Assim, consideramos que estas formas de Ação devem sempre caminhar em paralelo com processos de conscientização da Classe Trabalhadora, e devem sempre considerar a correlação de forças e a conjuntura política, fugindo do espontaneísmo que por vezes cede lugar à desmobilização e criminalização dos movimentos sociais. 

As pixações são uma forma de denuncia e disputa política iniciadas nos grandes centros urbanos e cumprem um importante papel tanto de disputa política, quanto de denuncia à invisibilização de amplos setores da Classe Trabalhadora, em especial as camadas mais proletarizadas, periféricas, como as mulheres e população negra no caso do Brasil. A pixação tem uma força de choque muito expressiva, e cria marcas no tecido urbano, fazendo emergir elementos que tentam a todo tempo ser apagados pela Classe Dominante. Assim sendo, se tornam um tipo de Ação Direta com alta capacidade de dialogar com a Classe Trabalhadora. 

Reconhecer a importância das Ações Diretas, sem romantiza-las, entendendo sua dialética é uma tarefa premente para os movimentos sociais. Em especial num cenário de ascenso da Luta de Classes, que necessita não só de reforço das estratégias de disputa ideológica da Classe Trabalhadora, mas também um olhar crítico sobre essas, evitando os riscos da desmobilização e criminalização dos Movimentos Sociais. Assim sendo, as Ações Diretas devem continuar caminhando junto com as outras formas de Disputa Política mais amplas, visando como objetivo final a derrubada da ordem Capitalista Burguesa, e a criação do Poder Popular numa nova ordem Socialista.

Um comentário:

  1. interessante, isso também tem me incomodado recentemente, eu tb ia escrever um texto nessa linha.
    em que, nesse momento a luta de classes está num momento muito controverso. e as velhas formulas prontas não mais nos devem interessar, temos enquanto materialistas históricos, fazer como mrax propos, e buscar comppreender sempre as coisas baseados na analize de cada momento da conjunutura.
    No dia da greve geral, eu conversei com muitos trabalhadores. e todos que eu falava, diziam a mesma coisa, que um dia era só o começo, que realmente um dia não resolveria a questão, que tinha de parar o país até temer sair. bem como o debate da ação direta, sempre vejo entre os proletários um ódio capaz de ir num rumo revolucionário, de querer se jogar numa causa, mas nesse momento essa opção não lhes é apresentada, pois, mesmo os ppartidos de oposição ainda estamos presos a lógica da democracia burguesa. que por um lado nos da uma marguem de sussego para respirar e conseguir agir também democraticamente apesar das limitações. E essas limitações são tantas de forma que os partidos de esquerda não tem tido de fato inserção nas massas.
    Daí duas coisas, se apresentam, a tatica de diálogo com a classe tá complicadíssimo pelas taticas da esquerda, alem de obviamente o vicio eleitoreiro das esquerdas que as fizeram se afastar das massas. Sendo que só recentemente, que tem-se voltado para o movimento de base, e disputá-los.
    Enfim, acho q de fato, temos que começar a pensar cada vez mais na necessidade de agir na clandestinidade, até pq não parece tão distante um tempo que o bixo pegue pragente.
    e 2 acho também importante pensar que enquanto a luta de classes se acirra, e a direita tá pegando cada vez mais pesado na opressão, a reação das massas se volta na mesma direção mas em sentído oposto. Nunca nos ultimos 30 anos, tinhamos visto a classe com vontade de lutar como nessa greve geral, em várias cidades do país, interiores a dentro, o povo, fazia ato, parava br, queimava pneu, fechava rodovia, fábrica, sem muitas organizações guando, até pq n tem partidos para dar conta disso. e acho que é uma das tarefas da esquerda nesse momento, é conseguir dirigir esse sentimento de revolta das massas, conseguindo dialogar cada vez mais com as suas necessidades reais. e as suas respostas reais necessárias nesse contexto.

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